...palavras são o que teimamos em usar para vesti-las.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Poucas palavras

Conheço um advogado que trabalha em Londres, há dois anos, na condicao de expatriado, assim como eu aqui. Agora chegou o momento de ele voltar para o seu país de origem. O Japão.

Engraçada esta situação, por que nós passamos os últimos 5 meses brigando, cada um defendendo a companhia para a qual trabalha. Conversamos sempre em uma língua que nao é a minha nem a dele, morando ambos em países em que somos apenas visitantes. Brigamos por um dinheiro que não pertence a nenhum de nós dois. Diferenças e semelhanças que acabaram por criar um laço de respeito, e por que não dizer, de solidariedade, que hoje se materializou em algumas poucas palavras, digitadas.

Ele me escreveu um e-mail curto, em um tom educado e respeitoso, que acho que todo bom Japonês conserva, nao importa onde more. Avisou que os próximos contratos deverão ser enviados para o seu sucessor, fulano de tal, que era grato pela minha paciência durante as intermináveis negociações (que ainda não terminaram), e que havia sido um grande prazer trabalharmos juntos. Me desejou, ainda, um tempo de boas vivências aqui em Berlim. Pude sentir a mistura de sentimentos nas suas palavras, quando ele disse que, quanto a ele, havia chegado a hora de voltar para o Japão.

Fiquei imaginando como se sente alguém que volta para casa em um momento como esse, em que o seu país vive uma triste mistura de luto e medo. Ouço tanta gente falando sobre como os japoneses são conformados, calmos e disciplinados. Talvez seja culpa dos olhos estreitinhos, que não deixam transparecer todos os sentimentos... Não pude ver os olhos do meu colega hoje, mas imagino que eles devem estar cheios de medo e angústia, querendo passar por aquele pequeno espaco entre a pálpebra de cima e a de baixo. Pelo menos, foi isso o que eu pude enxergar entre as palavras ali digitadas.

Respondi a ele dizendo que mal consigo imaginar o momento difícil que o país dele está passando, e desejei que ele encontre a sua família e amigos em seguranca. Acho que é a primeira vez que mando um e-mail para ele, nestes 5 meses, e torço para não receber uma resposta. Afinal, não há o que falar. Aí acertam os Japoneses, na minha opinião, que ouvem mais e falam menos.

Tudo isso me fez pensar sobre o Brasil, e como me sentiria em voltar e não encontrá-lo como o deixei. As pessoas, o ambiente, a vida. Quando vamos para longe, temos tantas distrações, novidades, desafios, que nem paramos para pensar como o que temos lá em casa também é bom, também é bonito, também funciona... ao menos para a gente.

Hoje sinto pelo meu colega, e pelo que ele vai encontrar ao sair do aeroporto. Vivemos em um mundo com tantas oportunidades e possibilidades. Mas há uma que sempre queremos conservar, não importa o que aconteça: a possibilidade de voltarmos para casa, quando quisermos, e a encontrarmos lá.