A Pim mora na Alemanha há 26 anos, e até hoje, se comunica aos trancos e barrancos, com o seu engraçado “Tailemão”. Uma senhorinha simples, baixinha, que ri e fala sem parar, como se a gente estivesse entendendo tudo. Ela se perdeu porque não entendeu a numeração dos prédios aqui na rua. Morre de medo de elevador, e me fez prometer que desceria com ela na hora de ir embora. Mas que ninguém se deixe enganar por aquela aparência inofensiva, que inspira quase compaixão. Não sei de onde aquelas mãozinhas tiram tanta força. Onde mais doí, é onde ela mais aperta. Sem dó nem piedade. Bastou uma sessão para aprender que se doer muito, o negócio é não dizer nada. Se reclamar, é aí que ela se empenha ainda mais, e adquire quase que superpoderes. Um trator, um rolo compressor, ou, no caso, um tsunami, como preferir.
No dia seguinte, acordei como se tivesse dormido dentro da máquina de lavar roupa, no modo centrifugar. Doía absolutamente tudo, muito mais do que antes dela passar por aqui. Mas conforme os dias foram passando, percebi que os músculos estavam doloridos, mas tinham de fato voltado para o lugar. Afinal, ela sabia o que estava fazendo.
Mas o que me impressionou mais sobre a Pim, não foi a sua técnica terapêutica. Conforme íamos tentando nos entender, com o nosso alemão igualmente sofrível, ela me falou uma das coisas mais simples, e, ao mesmo tempo, mais sábias que eu já ouvi. Ela me disse que com todas as dificuldades que já enfrentou na vida, se considera realmente feliz, pois sabe que faz bem para as pessoas. Acho que ela poderia até ter dito isso em Tailandês, e eu iria entender. A expressão no seu rosto era como uma legenda, numa língua universal. E existe de fato maior felicidade, do que ter esta sensação diariamente, com o trabalho que se escolhe para ganhar a vida? Imagino que seja algo como aquela alegria que a gente sente ao dar um presente, daqueles muito bem escolhidos, para quem a gente gosta, só que multiplicada por 8 horas por dia, 5 vezes por semana. Fazer bem para os outros, como profissão. Caramba, quanta sabedoria escondida atrás de uma figura tão simples. Feliz da vida, lá foi a Pim embora, mas só depois, é claro, que eu desci com ela no elevador.