...palavras são o que teimamos em usar para vesti-las.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

No centro

Como diz o Tavares, meu querido amigo, tem momentos em que a gente está “no centro”. A  versão completa da expressão é “no centro de fortes emoções”,  e se aplica ao dia antes do vestibular, aos últimos minutos antes da largada, ou à espera pela notícia do médico ao fim da cirurgia. Existem várias categorias de situações que colocam a gente “no centro”. As que eu andei passando, nas últimas semanas, não são, definitivamente, das mais graves. Muito pelo contrário, existem na vida circunstâncias muitíssimo mais sérias do que qualquer coisa relacionada a trabalho. Mas seja como for, estar “no centro” é estar “no centro”, e a gente passa apertado de qualquer jeito.

Já me disseram que somos avaliados todos os dias, em tudo o que fazemos, sem percebermos. E isso é bem verdade. Mas quando você sabe que o chefe do seu chefe está ali só para observar a sua reação, numa simulação cuidadosamente elaborada para lhe deixar sem saber o que fazer, aí não tem como estar em outro lugar que não “no centro”.  Ou quando colocam a gente para falar durante 3 horas, sobre um assunto que a gente acabou de aprender, para um bando de gente que é formada no tema. Aí também não tem expressão que melhor se encaixe.

Mas o que achei interessante, sobre estas recentes experiências apavorantes, foi parar para pensar que outras coisas, antes também assustadoras, um dia simplesmente deixaram de ser. Meu pai teve a feliz idéia de me enviar um e-mail, na noite anterior a um desses hecatombes psicológicos, com uma foto da competição de natação em que eu nadei na honrosa categoria “sapinho”. Não me lembro da sensação, pois tinha só quatro anos, mas aposto que naquele dia o nervoso era proporcionalmente o mesmo, considerando a minha nanica estatura na época. O que o meu pai quis me dizer, e o que eu acho que entendi, é que os desafios crescem junto com a gente, e que se um dia a gente foi capaz de nadar bem o “sapinho”, por que hoje não seríamos capazes de encarar um ou outro leão por aí? Então foi só começar a pensar sobre o que veio depois da competição de natação, e ir achando outros pequenos grandes desafios, que foram crescendo, crescendo e culminaram, agora, com essa reunião (de mentirinha) onde eu tive que falar para o chefe (de verdade) que ele estava completamente errado e que por favor deixasse eu acabar de falar antes de emitir a sua opinião. É bastante suor para uma testa só...

Mas acho que perceber este fato foi muito mais importante do que o resultado de qualquer desses recentes apertos em si. Talvez assim seja possível enxergar os próximos de um jeito diferente, ou pelo menos tentar continuar crescendo (ainda que não em estatura), para acompanhar o passo dos desafios que de tempos em tempos teimam em colocar a gente “no centro”.