Estão para terminar os seis meses mais
marcantes de toda a minha vida. Licença maternidade é uma invenção moderna para
dar à mulher que trabalha uma pequena provinha daquilo que ela foi, na verdade,
criada para fazer o tempo todo: cuidar dos filhos. Por
este ponto de vista, é um período engraçado, em que de uma hora para a outra a
gente vira “café com leite” no trabalho: seja por força de lei, seja por bom
senso, ninguém mais nos cobra nada. Quando te ligam pedem mil desculpas. Os
e-mails não esperam mais ser respondidos. Os convites para reuniões param de
chegar. Tudo isso porque um bem maior e muito mais frágil do que qualquer
assunto de trabalho depende da nossa total atenção. Temos pouco tempo para
despertar o instinto materno, adormecido pelas infindáveis reuniões e abafado
pela roupa de trabalho. Temos que esquecer a senha do computador e a rotina de
escritório para aprender rapidamente uma tarefa completamente nova: cuidar de
um bebê.
Bom, para mim, a licença maternidade foi ainda
mais do que isso. Em apenas 6 meses, vivi acontecimentos que a maioria das mães
vive em 2 anos. Explico com um exemplo.
No período de seis meses troquei a primeira e
possivelmente a última fralda da minha vida. Ainda me lembro do frio na barriga
que deu, quando ainda no abrigo a cuidadora me disse: essa fraldinha aí a mamãe
é que vai trocar... e agora, poucos meses depois, a nossa bebê desfraldou, dia
e noite, logo na nossa primeira tentativa. Ficamos nós dois, bobões, com o
estoque enorme de fraldas que compramos logo que ela chegou, guardado lá na
dispensa, ao lado das latas de molho de tomate. E a cereja do bolo veio estes
dias, quando este recém desfraldado ser olha para mim com uma cara bem séria e diz:
“a mamãe não vem, tá?... a mamãe fica aí... a Vana quer fazer xixi sozinha”, e
fecha a porta do banheiro na minha cara. Ainda com a testa apoiada na madeira
da porta, penso: será que o músculo do nosso coração foi feito para suportar acelerações
tão bruscas? Um misto de orgulho e pesar me consome: ela vai mesmo crescer, e
não vai ser devagar.
Foram seis meses de incontáveis primeiras vezes,
cada uma com a carga de emoção e adrenalina que lhe cabe: primeira vez que alguém
me chama de mãe, primeira vez que faço alguém dormir no meu colo, primeira vez
que preparo uma mamadeira, primeira vez que levo alguém ao pediatra, primeira noite
sem dormir, primeira vez que a vacina na perna de outrem dói em mim, primeiro
corte de cabelo, primeira ida ao restaurante, primeira febre, primeira diarreia
que eu limpo, primeira vez que decido furar a orelha de alguém, primeira
festinha em buffet, primeira bronca, primeira palmadinha no bumbum, primeira
vez que eu choro por dar uma palmadinha em um bumbum, primeira ida ao teatro, primeira
ida à piscina, primeiro Natal com criança em casa, primeira visita ao
zoológico, primeira ida à praia, primeira viagem em família, primeira ida ao
dentista, primeira vez que ela calçou os sapatos sozinha, primeira frase dela com sujeito, verbo e predicado, primeira, primeira, primeira...
E agora, para completar a volta dessa montanha
russa da maternidade expressa em 6 meses, teve recentemente o primeiro dia de escola.
Lá foi a pequenininha, toda de uniforme, orgulhosíssima da sua primeira
mochila, de rodinhas, com um palmo e meio de altura. Se teve choro? Claro que
teve. Só que não da aluna nova... só da nova mãe.
Essa
experiência só me faz perceber o quanto a vida pode surpreender, transformar-se em tão curto espaço de tempo, e o quanto precisamos permanecer
atentos para perceber tudo isso acontecendo e não deixar passar nada despercebido. Vale como alerta, que escrevo aqui
para eu mesma não esquecer, nem mesmo depois que o meu período de café com
leite tiver terminado.