O Tobias veio para acalentar um
coração infantil aflito que, de tanto desejo de ter um animalzinho, acolheu
duas minhocas no jardim e as batizou (Juliane e Mariane eram os nomes). A
efêmera vida e trágica morte dos anelídeos em seu pequeno copinho plástico teve
o heroico feito de nos convencer a ir em busca do companheirinho que a Giovanna
tanto pedia. Um cachorro.
Já li em algum lugar que um
cachorro nada mais é do que amor embrulhado em pelos. No caso do Tobias, muitos,
branquíssimos e longuíssimos, quase sempre bagunçados, descabelados, e
inevitavelmente embolados, dando a ele o ar de cão selvagem que na verdade é.
Isso porque além do amor que ele de fato traz de sobra em seu interior, tem uma
dose enorme de malandragem lá dentro, um tipo de combustível atômico que faz o
bicho saltar que nem coelho e correr como se fosse um labrador, com aquelas
orelhas cabeludas balançando sem parar e deitadas para trás para melhor aerodinâmica.
Corre não apenas atrás de bolinhas e discos, mas também de pombas, borboletas e
afins. O Tobias não perdoa. Se mexeu ele persegue. Não pega nada, mas se
diverte. Só ele para acabar com a a atmosfera zen do laguinho de carpas aqui do
Condomínio, avançando nelas da borda que nem um doido, abanando seu penacho
branco com a mais plena alegria. Por duas vezes já precisei puxá-lo pela
coleira lá de dentro, ao ver aquele algodão gigante, boiando na água gelada.
Tem também as outras artes de
cachorro normal: sobe na mesa e come o nosso jantar quando ninguém está vendo,
rouba pé de meia ou de sapato quando a gente está atrasado, late ferozmente
para o seu reflexo no vidro da sacada, esconde o caroço melado de manga no sofá
branco da sala, bebe água do chuveiro. Já vomitou no carro e acertou dentro da
minha bolsa que repousava aberta no chão. Já avançou em Pitbull (o doido!). Já entendeu
sozinho que a nossa bebê é café com leite e com ela ele só brinca de levinho.
O Tobias é responsável por grande
parte do barulho, mas também da leveza da nossa casa. Ver ele esfregando freneticamente
as costinhas justamente onde espirrei o spray para espantar cachorro é um episódio que gera tanta
indignação quanto riso. Brinca de
pega-pega e esconde-esconde pra valer com a Giovanna, traz os brinquedos para a
gente tentar puxar da boca dele (e não larga nunca), faz festa dobrada quando
escuta a voz da vovó chegando.
O Tobias está sempre perto. Não
importa o que você esteja fazendo ou a hora. Companheiro até da madrugada, sem
se importar com o enervante choro de bebê que às vezes nem o nosso ouvido
humano aguenta. Lá está ele aos pés, na cadeira de balanço, por horas a fio,
até todo mundo poder voltar a dormir. E quando a gente esquece a
carteira em casa e volta correndo para pegar, lá está ele ainda de olhar fixo e
sempre esperançoso na porta, pronto para fazer a mesma festa que faria se estivéssemos
voltando de uma viagem de um mês. O Tobias me fez falar fininho, amorosamente e
me referindo a mim mesma como mamãe dele. Nunca imaginei isso.
O Tobias já tinha nome antes
mesmo de existir. Era o nome idealizado de um cachorro, se um dia o tivesse. já houve até Tobias Agora aqui está o Tobias em carne, osso e
muitos pêlos, com todo o seu amor e malandragem, dormindo à noite em cima dos
pés da Giovanna, que tanto o desejou. E por tabela fazendo de cada um de nós
uma pessoa um pouquinho mais tolerante, amorosa e talvez mais leve. Agora são
quase quatro horas, está para chegar o rapaz do adestramento, que chamei para
me ajudar com esse negócio de um Maltês achar que pode atacar Pitbull. Ah,
Tobias...