...palavras são o que teimamos em usar para vesti-las.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Crescer dói a cabeça!

A cabeça da Gi bateu pela primeira vez no batente da porta da casinha de madeira que tem aqui no nosso prédio. Isso nunca tinha acontecido antes. Ela passava direto correndo, sem precisar abaixar. Antes mesmo que eu me desse conta do seríssimo significado do ocorrido, ela mesma, em sua esperteza, adiantou: “Mamãe, eu já estou gandona!” (sic).

Ai que dor. Não na minha cabeça, que não foi a que bateu, mas no meu coração. Contraditória e inconsistente, é isso que eu sou. Brigo todo dia com a Gi para ela comer tudo, para crescer e ficar forte. Mas ao ver ela crescer tão rápido, quero secretamente que ela fique pequenininha por mais tempo. Como ela mesmo diz com frequência: “que mamãe maluca!”.

Está para completar um ano que a nossa vida mudou para sempre. Foi o ano mais feliz de que posso me lembrar. Comparando o índice pluviométrico de lágrimas, com os dos anos passados de tão longa espera, tivemos uma seca histórica. Houve sim alguns momentos de aflição e angústia. Queríamos presentear a Gi com algo muito importante que a vida pareceu nos oferecer, mas acabou nos negando. Daí vieram as lágrimas que não deixaram o índice zerar. Foram poucas, mas muito doídas. De todo modo, hoje sabemos que houve uma razão para Deus nos fez esperar tanto tempo da primeira vez: a Gi ainda não estava pronta. Agora, tenho que acreditar que toda negativa da vida tem uma razão, que talvez viremos – ou não – conhecer um dia.

Neste ano a Gi colocou de fora as asinhas, que, por um bom tempo, ela não teve espaço suficiente para bater. Passou das poucas palavras à atual metralhadora de porquês (a gente segue procurando o botãozinho onde desliga a matraca, que vira e mexe dispara desenfreada). Curte tudo o que tem direito, no limite. Quer brincar até o último suspiro de sono. Já acorda falando do que quer fazer hoje. Nas nossas férias na Alemanha, ela mostrou que não passa apertado no quesito sociabilidade, nem mesmo no estrangeiro. Ficamos com cara de pastel, ao observar a figurinha interagindo no parquinho com crianças que não entendiam uma palavra do que ela dizia. Alguns olhares e um sorriso bastavam, para que ela conseguisse rapidamente a chance de brincar junto com eles. Seguimos aprendendo com a nossa pequena grande pessoa. E até diversificou o vocabulário: “Nein”! É agora a resposta padrão quando a chamamos para escovar os dentes.

Ainda que a nossa casa seja hoje muito menos organizada do que antes e a nossa rotina em alguns horários quase caótica, toda essa bagunça me trouxe, por mais paradoxal que pareça, acima de tudo, equilíbrio. É de equilíbrio a sensação que tenho ao ver a foto dela sobre a minha mesa de trabalho, mesmo quando o bicho está pegando por lá. É equilíbrio ajudá-la a escolher que boneca ela vai levar para escola no dia do brinquedo, antes de ter que escolher qual e-mail eu vou responder primeiro na empresa. É equilíbrio acordar de noite com o chorinho dela se escapou xixi na cama, ao invés de acordar pensando no contrato que preciso fechar no dia seguinte.

Sou grata todos os dias por este equilíbrio, e pela Giovanna estar crescendo linda e saudável. Junto com ela cresço eu. Vou me tornando não só mais mãe a cada dia que passa, mas aprendendo que, ainda que doa um pouco, a gente nunca pára de crescer.
Giovanna batendo as asinhas na Alemanha

Um comentário:

  1. Coisa mais linda! Um dia vamos lembrar da segunda parte da história e, com certeza, dar graças a Deus por tudo que Ele nos deu e deixou de dar. Beijo nessa boneca linda da tia!!! Dani Benes

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