Há tempos tenho tido vontade de escrever, mas
tem sempre alguma coisa mais concreta, mais urgente, mais real, que tem que ser
feita na mesma hora. Mas hoje não. Hoje nada é mais importante do registrar
para sempre o que estou sentindo, logo após colocar para dormir pela última vez
a minha filha de 3 anos. Amanhã, daqui poucas horas, você terá 4. Acho que toda
mãe é sensível com esta história dos filhos crescendo, da data do aniversário.
Mas eu acho que eu sou mais. Demais.
Talvez porque eu não estava lá no dia em que
você nasceu. Não estava. Não fui eu que senti dor, não tenho história de
correria para o hospital para contar, não te vi enrolada em um pano azul.
Não vi. Também não dei seu primeiro banho, e não sei como foi te segurar quando
você era tão levinha que parecia que ia quebrar.
Não ter estado com você desde este momento, me
dá a impressão de que já perdi tempo demais. De que preciso me agarrar com verdadeira
gana ao tempo, ouvir com atenção cada
musiquinha que você canta, fotografar, ainda que na mente, cada carinha engraçada que você faz, e
desfrutar de cada um destes seus
sorrisos matadores. Sorrisos de cujos poderes mágicos estou convencida. Ao
menos, poderes que nunca ninguém exerceu sobre mim.
Pode parecer uma reflexão triste até aqui. De
fato estou chorando enquanto escrevo e várias letras do teclado já foram
aleatoriamente contempladas com um pingo. Mas é um choro de contemplação. E de gratidão. Enquanto te vejo dormir aqui
do meu lado, tão em paz, penso em toda a
sequência de acontecimentos, fatos e ações que foram cuidadosamente
orquestrados para que, a despeito deste início tão distante, em que ainda não sabíamos
sequer da existência uma da outra, pudéssemos
nos encontrar. E fomos trazidas para tão perto, mas tão perto, que posso me ver
nos seus olhos, desde que você chegou. E acho que você também me vê um pouco em
você, pelo menos quando coloca o meu sapato alto, puxa meu cabelo castanho para
cobrir o seu cabelo “roiro”, e olha para o espelho dando risada de como somos
tão parecidas.
E em
tudo isso vejo na verdade uma grande vantagem. A consciência que o nosso início
distante nos traz, me reabre todos os dias os olhos para o que realmente
importa, e me lembra de como o tempo é malandro e foge à toa se a gente deixar.
Eu sei que preciso te dar colo todas as vezes que você pedir, ainda que você
esteja pesando 17 kg. Eu seu que preciso correr o quanto for preciso no
trabalho, e às vezes sair no meio da reunião, para vir almoçar com você e te
ver contar qual “poleguinha” faltou hoje na escola. Eu sei que na sua aula de
ballet, que mais parece uma pintura animada de pinguinhos de tinta cor de rosa
que pulam, não se deve perder um minuto sequer olhando o celular. Muitas mães
não sabem. Nós duas sabemos.
E ainda que eu tenha perdido alguns fatos
daquela época, que me vêm à mente agora, na véspera do seu aniversário, penso com
uma gratidão sem tamanho nos que já pude presenciar, e nos que estão por vir.
Seu terceiro ano de vida, e tudo o que vivemos juntos neste tempo, trouxe ao meu coração uma alegria cuja grandeza ainda não aprendi a descrever. E se não consegui
descrever, talvez o texto não tenha, afinal, servido de nada. Mas pelo menos acho
que agora consigo dormir e esperar em paz, assim como você, a hora de dar bom dia para minha
filha de 4 anos.
Sou mãe e sei o sentindo de cada palavra que escreveu... vocês são os amores da minha vida.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLindo!
ResponderExcluirAh, Gigi... Que felicidade que é tê-la nas nossas vidas... Mesmo que para mim e sua tia Dri seja de maneira mais distante, você nos traz uma alegria imensa. E quando sua mãe chora, é pela felicidade de te ver crescer e estar ao seu lado. Parabéns atrasado pelos 4 anos. Aproveite bastante, pois ser criança é ótimo (melhor do que ser adulto, acredite), e você tem pais maravilhosos. E lembre-se que seus "tios postiços " Dri e "Gru" estão sempre por perto, ai da que a distância.
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