É no dia-a-dia que conhecemos quem vive com a gente. Um pouquinho a cada dia. É por isso que eu acho que o tal amor à primeira vista não existe. Impossível. Seria uma inversão da ordem natural das coisas: amar, para depois conhecer? Não acho que funciona assim. Amamos ou deixamos de amar, na medida em que conhecemos.
É no dia-a-dia que vamos percebendo as qualidades e os defeitos, as reações e as omissões, aquilo que nos causa admiração e aquilo que preferiríamos não ver. De posse dessas informações, vamos lentamente consolidando - ou desfazendo - o desejo de ficar juntos, de viver em dupla.
Mas é naqueles dias menos comuns, aqueles das situações inusitadas, difíceis ou mais críticas, que este conhecimento vem em doses maiores, e pode nos surpreender, mesmo após alguns anos de convívio. Assim tenho ouvido falar, e experimentado.
Recentemente, no meio das nossas férias, inventei de interromper o passeio por 1 dia para comparecer a um compromisso de trabalho em outro país, um lugar que não conheço e cuja língua eu não falo. Talvez eu pudesse até ter ido sozinha, e voltado com uma sensação de auto-suficiência que só as mulheres modernas podem experimentar.
Mas tenho certeza que essa sensação não seria melhor do que aquela que eu senti, tendo sido amparada pela minha dupla, durante a aventura. Começando por um absoluto desprendimento em relação ao fato de que o compromisso de trabalho era meu, e não dele, passando pela disposição em me acompanhar, e pela assunção de toda a responsabilidade para garantir que eu chegaria no lugar certo, na hora certa, e faria bonito na reunião. Da compra dos bilhetes de trem na tal língua, à limpeza da manga do meu casaco - que eu desastradamente sujei de molho minutos antes do compromisso -, passando pelo grande encorajamento para encarar aquele dia que, para mim, era um desafio. Acima de tudo, uma postura que me surpreendeu, a despeito dos vários anos de “conhecimento”.
Se é que ainda existe por aí alguma feminista de plantão, daquelas que dispensa com orgulho o cuidado masculino, que me perdoe. O feminismo nos fez enxergar com naturalidade que determinados papéis, antes só exercidos pelos homens, podem também ser exercidos por nós, mulheres, e vice-versa. Até aí, tudo bem. Mas é importante lembrar que alguns desses papéis estão tão gravados na nossa essência que, quando nos rendemos a eles, e admitimos nossas fragilidades, nada de terrível acontece. Pelo contrário, nos sentimos bem, nos sentimos mulheres, e ainda criamos a oportunidade para conhecer um pouco mais quem está ao nosso lado. Foi justamente em uma dessas oportunidades que passei a admirar ainda mais a minha dupla.
É maravilhoso como podemos nos surpreender com pessoas que conhecemos há muito tempo. Temos a falsa sensação que conhecemos nossa dupla, também né, ás vezes sabemos até quando o outro está pensando.... mas é ainda mais maravilhoso quando nos surpreendemos com a gente, com mudanças sútis que quando colocadas a prova, demonstra nosso amadurecimento, demonstra esperança renovada.
ResponderExcluirBjo
Quel