...palavras são o que teimamos em usar para vesti-las.

sábado, 29 de maio de 2010

Atletas da vida

Há algum tempo decidi pular da cama mais cedo e ir nadar às seis da manhã, antes do trabalho. O congestionamento infernal depois das sete e meia tem sido um grande estímulo para abrir mão de uma hora de sono, em troca de um começo de dia sem stress. Atualmente, a CET só ajuda quem cedo madruga, e olha lá. Mas não tem sido esse o único benefício do novo hábito.

Logo nos primeiros dias me surpreendi com a freqüência da academia nesse horário. Justamente quem não tem mais compromissos, e tem o dia todo para ir onde quiser, faz questão de aparecer por lá logo no primeiro horário, como eu.

Aos poucos, elas vão chegando, uma a uma, carregando suas malinhas, maiôs e toucas, prontas para a hidroginástica, que, tenho certeza, não passa de um pretexto para aquele encontro animado no vestiário, todas as manhãs.


É a turma da terceira idade. Um bando barulhento de senhoras, no auge dos seus setenta e poucos anos, com muito mais assunto do que qualquer turma de adolescentes no vestiário da escola. Cabelos de todos os tons, do vermelho vivo, daquelas mais extrovertidas, ao branquinho elegante daquelas que exibem com orgulho a prova da sua vivência.

Ali, não trocam apenas de roupa. Trocam dicas sobre os passeios da semana, relatos sobre filhos, netos e noras, convites, receitas, vivências. Riem de si mesmas , queixam do joelho que dói, mas logo ajeitam a alça dos maiôs uma das outras e vão para a piscina, ainda tagarelando: “você paga para mim o passeio para Poços, eu te dou na semana que vem?”

É um burburinho gostoso de ouvir... Ajuda a lembrar que a velocidade da vida um dia diminui, e que a pressa para secar o cabelo correndo para chegar ao trabalho um vai dar lugar a uma pressa diferente. Afinal de contas, elas ainda correm. Correm atrás do tempo que passaram dentro de casa cuidando de filhos e dos maridos, ou trabalhando atrás de um caixa de banco, como algumas já comentaram. Correm para aproveitar o dia, como a D. Francina ajeitando com destreza a prótese de mama sob o maiô, enquanto me conta como venceu a doença, há mais de 20 anos. Já sabem o que importa na vida. Já não perdem tempo com o que não importa.


Mais de uma vez, ali no vestiário, ouvi de algumas dessas atletas: “Ah, minha filha, foi o tempo em que eu tinha esse corpinho...”. Minha resposta é sempre a mesma. “E está para vir o tempo em que eu vou saber tudo o que a senhora já sabe, é ou não é?”. Elas riem, mas sempre concordam.

2 comentários:

  1. Olá!
    Não tenho sententa mas aos sessenta já faço parte dessa turma de atletas.
    Posso garantir que é muito bom poder estar mais descontraida com a própia vida.
    Tenho certeza que você ira chegar nessa fase com muito mais sabedoria do que eu cheguei.
    Continue vivendo com essa garra e obcervando a vida.
    Bjs Ione

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  2. Em um país como o nosso, onde estatísticas mostram que o índice de preconceito contra o idoso é maior do que os outros( raça,sexo,classe social...),é muito bom encontrar uma jovem que respeita, valoriza e interage com os mais velhos sem nehum tipo de discriminação.
    Parabéns.
    Inês

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