Sozinha em Berlin há cinco dias, comecei a ouvir os batimentos do meu próprio coração, na hora de dormir. Que coisa mais esquisita, nunca os tinha ouvido antes, assim, sem estetoscópio nem nada. Talvez seja por que o quarto do hotel é super silencioso, a vizinhança tranqüila. Pode ser. Mas tenho outra teoria. Quando a gente não entende o que está sendo dito ao nosso redor, por muito tempo, passamos a prestar mais atenção aos nossos próprios pensamentos, sentimentos, e talvez até ao nosso coração. Ficamos mais introspectivos que o usual.
Ontem, por exemplo, na estação de trem, me solidarizei com uma pomba. Alemã, imagino, mas igualzinha às pombas da praça da Sé. Ela deve ter entrado por uma das janelas e foi indo adiante, adiante, até que entrou em uma área toda cercada de vidro e não sabia mais o caminho da saída. Como eu, ela estava ali, andando de um lado para o outro, no meio daquele monte de gente, sem saber direito para onde ir, e sem muita coragem para perguntar para alguém. Tenho certeza de que, como eu, que acabei achando a plataforma do meu trem, ela também deve ter achado a saída, depois de algumas tentativas. O fato é que normalmente eu sequer teria reparado na pomba. Se estivesse entendendo todas as placas e a conversa das pessoas ao lado, acho que teria passado direto por ela.
Não falar a língua local traz algumas vantagens, ao menos para mim que geralmente sou avessa a experimentar comidas exóticas, por exemplo. Gostei da foto de um prato de macarrão oriental na porta do restaurante, entrei e pedi pelo número do cardápio. Não tinha erro, afinal, yakissoba é tudo igual, e os números eu aprendi já na primeira aula. Alles gut! Mas nem sempre as coisas são tão simples assim... Foi pedir o prato e logo veio a pergunta, na lata: com o molho X ou Y? Se você já passou por uma dessas situações constrangedoras, sabe muito bem que nesta hora, o que a gente mais quer é abreviar aquele momento de tensão, com gente esperando na fila, e o atendente com cara de poucos amigos. Além do que, de que adiantaria perguntar a composição dos molhos? A explicação viria no mesmo bom Alemão do viatnamita do balcão, com aquele super bom humor de final de expediente.
Escolhi o molho aleatoriamente, como muitas outras escolhas que tenho tido que fazer por aqui. Era dia de molho “supresa”, pronto. Devo confessar que dessa vez deu errado, o molho era horrível. Onde já se viu colocar abacaxi no macarrão? Paciência. Paguei em Euros, estou com fome, desperdício é pecado. Comi tudo. Quem sabe da próxima vez?
Minha querida,
ResponderExcluirAmei o seu blog! Acompanharei sempre...!
Aproveite esse momento de introspecção, será bom também, afinal, como vc disse, são raras as vezes que reparamos em situações, pessoas e sentimentos que passam sempre em nosso dia-a-dia e em nossos corações.
Conhecer a si mesmo é o grande segredo do sucesso pessoal em nossas vidas...
Muito boa sorte por aí!
Beijo grande,
Mari Paiva