...palavras são o que teimamos em usar para vesti-las.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O danoninho nosso de cada dia

Já reparou como gastamos boa parte do nosso tempo pensando em coisas que sequer existem? O amanhã é um bom exemplo. Olhe aí para o seu relógio. Até a meia noite de hoje, o amanhã simplesmente não existe. Não se trata de discutir se ele existirá ou não, com aquela velha conversa de que “basta atravessar a rua...”. Nada disso. A questão se limita aos fatos. Neste momento, ele não existe. Ponto final.

Então, por que será que nos dedicamos tanto a imaginar como ele será? E pior, quando o amanhã finalmente chega, lá estamos nós pensando no dia seguinte, e seguinte, numa interminável especulação sobre o que vem por aí. Parece um mal bastante comum, tanto é que garante o sustento de um bando de profissionais, de economistas a meteorologistas, para não falar nos praticantes de modalidades menos respeitadas de adivinhação. Mas parece que nem sempre fomos assim, ao menos, não quando éramos crianças.

Neste último feriado, o Léo – aquele mesmo, o do leão – voltou à nossa casa. Do dia em que ele chegou, até o dia em que o levamos embora, eu só conseguia pensar em como será a vidinha dele, dependendo do que o juiz vai decidir (quando V. Excelência decidir decidir, é claro).

Será que o Léo um dia vai se formar na faculdade, ou vai largar a escola cedo? Será que ele vai se lembrar que é feio pegar sem pedir emprestado, ou vai se render aos conselhos das más-companhias? Será que ele vai esquecer a sensação de abandono que experimenta desde tão pequenininho, ou vai transformá-la em revolta, em algum ponto do caminho?

Já ele... quanta preocupação! Se deliciou com a água gelada no rasinho da praia, comeu tantos danoninhos quanto pôde, assistiu mais uma vez o seu filme preferido na televisão, dormiu no nosso colo no sofá, fez birra para ir para a cama. Viveu aqueles 4 dias intensamente, sem pensar no domingo que estava chegando. Sem pensar nos meses e anos incertos que estão por vir. Sábia decisão: afinal de contas, o que pode ele em relação ao seu futuro, do alto do seu 1 metro de estatura?


Tentei ensinar o Léo a amarrar o cadarço do próprio tênis. Ele me olhou fixamente, com a testa bem franzida, e as palmas das duas mãozinhas viradas para cima, em sinal de completa indignação:

“Mas, tia, eu só tenho 4 anos!”  

Boa Léo! Às vezes falta a nós, adultos, reconhecermos a nossa pequeneza e impotência diante dos fatos da vida. Quer saber? Façamos a nossa parte hoje, e que venha o amanhã, como tiver de ser. Eu vou é imitar o menino, e comer meu danoninho sossegada, um dia de cada vez.

6 comentários:

  1. Andrea,

    O que nos mata sempre é a Ansiedade - as doenças são fruto de anos de ansiedade cultivadas com bizarro carinho por nós, e que por isso são tão difíceis de eliminar.
    Uma coisa é ser previdente, outra é viver um dia de cada vez. O dia que cada um de nós neste mundo souber conciliar viver um dia por vez, pensando no futuro e lembrando o passado como formas de apoio (e não de referencia ou objetivo), nossos problemas terão diminuido a proporções desprezíveis. Mas, enquanto este dia não chega, vamos começar por nós mesmos, e tomar um Yakult por dia.
    Luciano

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  2. Andrea,
    Conheci uma pessoa que sempre me dizia que: "o passado já foi é imutável, o futuro ainda não veio então nada podemos fazer ainda, daí só nos resta viver o presente como um presente divino com toda a intensidade que pudermos.
    Bjks

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  3. Oi Dé
    Quantas sabias palavras e parece que a medida que o tempo vai passando mas temos consciencia de viver responsavel mas ainda assim viver, sem que esse tão assustador futuro, breque nossa felicidade!!
    Suas palavras são sempre demais, valeu sabe que esta sempre no meu coração!
    Camila

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  4. Gorbs,

    É verdade... certo é o Léo, que vive um dia de cada vez, sem pensar no futuro. Afinal, ele não existe, certo? Não podemos deixar que o presente aconteça enquanto planejamos o futuro!

    E por falar em futuro... imagino se um dia o Léo vai querer saber mais daquela tia legal que o levava à praia, dava danoninho e tentava ensinar a amarrar o cadarço...

    Espero que procure e que, quando procurar, que encontre (pelo menos) este blog... e que veja quanto carinho vocês tiveram por ele! E, ainda, que se ele decidir ouvir as más companhias... que ele leia isso e saiba que não vale a pena!

    Mais uma vez, parabéns pela iniciativa e por suas palavras, que tanto me emocionam!

    =)

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  5. Andrea,
    Muito legal o seu blog.
    Um grande beijo,
    Adriane (da SanFran)

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  6. Déião

    achei muito lindas as suas palavras...
    a gente tenta antecipar tudo, né?
    Tenho certeza que o juiz vai decidir por vocês:
    Pessoas tão legais e amorosas!
    beijos

    Paula

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