...palavras são o que teimamos em usar para vesti-las.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Conservar a qualquer temperatura

Sempre sonhei em um dia ver um campo de girassóis. O girassol é a minha flor preferida. Acho uma flor de presença, parruda, pesada, e ao mesmo tempo, tão delicada, tão alegre, tão amarela. Não tem como olhar para um girassol e ficar triste. Acho que é por isso que não se usa girassóis quando morre alguém.  Mas também não se usa em casamentos. Vai ver que é porque acham uma flor pouco nobre, comum, afinal, o girassol que não vai para a floricultura, acaba virando comida de papagaio ou óleo para fritar pastel.

O fato é que o girassol sempre me encantou, e sempre foi a flor que ganhei nos aniversários de namoro, casamento... No começo era uma haste para cada ano, até que o buquê começou a ficar muito pesado, não só para o bolso, mas também para o braço (afinal, é uma flor de presença, parruda, pesada).

Muitas vezes vi aquelas fotos de revistas de viagem, com os campos de girassóis na toscana, no sul da frança, e até no Rio Grande do Sul... Nas viagens que fizemos por aí, nunca calhou a época, o lugar, a florada... Um dia pendurei uma dessas fotos na porta da minha geladeira, e, como tudo o que penduramos na geladeira, ficou lá por anos e anos, puxando de vez em quando o canto dos nossos olhos, entre uma abridinha para pegar um tomate ou o litro de leite. Não sei onde foi parar essa foto na nossa mudança. Tenho a impressão de que ela ficou lá, grudada na geladeira, que agora já está na casa de outra pessoa. Espero que ela também passe os olhos pelos girassóis da foto de tempos em tempos, e fique imaginando, como eu, como seria andar no meio deles um dia.


Pois foi na semana passada que a figura deixou de ser uma foto na geladeira, e passou a ser uma memória com muitas outras dimensões, na minha cabeça. Em 40 minutos de carro, saindo aqui de Berlin, chegamos ao ponto que indicava a narradora sisuda do nosso GPS (que agora só fala Alemao). Achamos umas coordenadas depois de uma pesquisa na internet, onde vimos fotos dos campos plantados aqui na região no ano passado. Escrevi um e-mail para o fotógrafo, e ele me respondeu que os campos mudam de lugar de ano para ano, e que era difícil dizer. Puxa vida, é verão, estamos na Europa, tem que ter um pelo menos um canteirinho em algum lugar aqui por perto. E tinha!

Nunca vi coisa tão linda. Foi mais do que apenas a imagem. Foi me dar conta que elas têm quase a minha altura, foi ouvir o barulho das abelhas que voavam para todos os lados, bêbadas com aquela abundância de pólem e o perfume que exalava daqueles miolões amarelos. Foi o calor do dia. O contraste do amarelo com o azul do céu. O sol forte, que não deixava aqueles bolachões amarelos olharem para o outro lado, hipnotizados que estavam pela luz, como a plateia de um bom show. Hipnotisada fiquei eu também, com a oportunidade de contemplar este capricho, aquelas incontáveis hastes, com as quais seria possível presentear alguém por milhares, milhões de anos de namoro. Taí uma lembrança que vai durar para sempre. Não precisa nem conservar na geladeira.





3 comentários:

  1. Lindo demais, Deia!! Também adoro girassol. Lembra que vc e as minas me deram num aniversário lá na editora?

    ResponderExcluir
  2. Belo post e lindas fotos (até parecem ter saído de uma revista de fotografia). Cada post seu me faz ter cada vez mais vontade de ir à Alemanha, comprar um Trabant e sair passeando por aí em busca destes campos, eficicações e paisagens daí. Vielleicht im nächsten Jahr...

    ResponderExcluir