A cidade limpa e as meninas-placa
Não há um de nós que não as tenha visto. De tanto vê-las, quase não as enxergamos mais. Perucas coloridas sobre cabeças ao sol, placas gigantes pendendo de seus pescoços suados. Ficam ali, em pé, plantadas nas esquinas e cruzamentos dos bairros onde brotam empreendimentos imobiliários, sinalizando o progresso do setor. São as meninas-placa.
Pagas (mal, por óbvio) para passarem o dia respirando a fumaça dos nossos escapamentos, chacoalhando setas gigantes, fazendo as vezes de postes. Postes estes que, aliás, estão agora a salvo e devidamente protegidos pela lei cidade limpa. Não se trata de crítica à lei, mas à impressionante aptidão que temos nós, os brasileiros, de desviar princípios e rapidamente usar algo planejado para melhorar o que andava mal, tornando-o pior.
Com as restrições à publicidade em postes, muros e outdoors na cidade, é impressionante o aumento no emprego desta modalidade degradante de publicidade, de eficiência duvidosa, que explora deliberadamente a falta de oportunidade de trabalho digno. As horas passadas ali, na função de poste, são certamente as mais improdutivas que um ser humano pode viver. Não se aprende absolutamente nada. Não se adquire prática em nada. Não se capacita para nada. Experiência? “Tenho, trabalhei de placa”.
Agora, em lugar da poluição visual ponto, temos a poluição visual vírgula, acrescida de um traço de miséria humana. Fazer as vezes de objeto, sabendo que o seu tempo vale bem menos do que a multa cobrada de quem pendura o cartaz no poste, em lugar do seu pescoço. Marmitas frias comidas no chão da calçada suja, sob o sol do meio dia. Outro dia me incomodei, chamei uma delas pela janela do carro e lhe estendi a mão com um livro: “Olha, para ajudar a passar o tempo”. “Obrigada moça, não sei ler não”. A menina-placa não sabe ler o que sinaliza, e passa mais um dia sem saber, com o olhar distante e sem perspectiva. Olhar de poste.
É hora de dar uma olhada sob o tapete da cidade limpa.
Não há um de nós que não as tenha visto. De tanto vê-las, quase não as enxergamos mais. Perucas coloridas sobre cabeças ao sol, placas gigantes pendendo de seus pescoços suados. Ficam ali, em pé, plantadas nas esquinas e cruzamentos dos bairros onde brotam empreendimentos imobiliários, sinalizando o progresso do setor. São as meninas-placa.
Pagas (mal, por óbvio) para passarem o dia respirando a fumaça dos nossos escapamentos, chacoalhando setas gigantes, fazendo as vezes de postes. Postes estes que, aliás, estão agora a salvo e devidamente protegidos pela lei cidade limpa. Não se trata de crítica à lei, mas à impressionante aptidão que temos nós, os brasileiros, de desviar princípios e rapidamente usar algo planejado para melhorar o que andava mal, tornando-o pior.
Com as restrições à publicidade em postes, muros e outdoors na cidade, é impressionante o aumento no emprego desta modalidade degradante de publicidade, de eficiência duvidosa, que explora deliberadamente a falta de oportunidade de trabalho digno. As horas passadas ali, na função de poste, são certamente as mais improdutivas que um ser humano pode viver. Não se aprende absolutamente nada. Não se adquire prática em nada. Não se capacita para nada. Experiência? “Tenho, trabalhei de placa”.
Agora, em lugar da poluição visual ponto, temos a poluição visual vírgula, acrescida de um traço de miséria humana. Fazer as vezes de objeto, sabendo que o seu tempo vale bem menos do que a multa cobrada de quem pendura o cartaz no poste, em lugar do seu pescoço. Marmitas frias comidas no chão da calçada suja, sob o sol do meio dia. Outro dia me incomodei, chamei uma delas pela janela do carro e lhe estendi a mão com um livro: “Olha, para ajudar a passar o tempo”. “Obrigada moça, não sei ler não”. A menina-placa não sabe ler o que sinaliza, e passa mais um dia sem saber, com o olhar distante e sem perspectiva. Olhar de poste.
É hora de dar uma olhada sob o tapete da cidade limpa.
Triste,chocante; porém muito real esta reflexão de "meninas-placa".
ResponderExcluirQuando nossa São Paulo e nosso Brasil vai corar de vergonha ao pensar nessas modalidades de trabalho escravo?
Não se acha almenos um fazedor de lei, para fazer uma lei brasileira que liberte essas escravas, bem como tantos outros? e propcie vida digna a eles?